Tres métodos de avaliação na bolsa: nominal, contabilístico e de mercado

Quando analisamos uma ação para decidir se investir, encontramos múltiplas formas de avaliá-la. Este artigo mostrará como o valor nominal, o valor contabilístico e o preço de mercado oferecem perspetivas distintas sobre uma mesma oportunidade. Compreenderás por que o value investing depende do valor contabilístico, quando confiar no preço de cotação e quais são os riscos reais de cada abordagem.

Aplicações práticas: como usá-los na tua operação diária

Antes de mergulhar em fórmulas, é útil saber para que serve cada método na realidade dos mercados.

O valor nominal em instrumentos convertíveis

O valor nominal surge especialmente em produtos como os bônus convertíveis. Nestes títulos investes um capital inicial, recebes juros periódicos e ao vencimento obténs ações a um preço predeterminado. Embora tecnicamente não seja um valor nominal puro, funciona como referência conhecida de antemão para futuros canjes. Este método tem um percurso interpretativo muito limitado em ações convencionais, pois a sua utilidade restringe-se quase exclusivamente ao momento de emissão.

O valor contabilístico: a bússola do value investing

A abordagem de comprar “boas empresas a bom preço” depende criticamente do valor contabilístico. Este método permite identificar empresas com balanços sólidos que cotizam abaixo do seu valor intrínseco em livros. A lógica é simples: comparar o rácio Preço/Valor Contabilístico (P/VC) entre concorrentes.

Por exemplo, se analisas duas gasistas do IBEX 35 e vês que uma tem um P/VC menor, significa que por cada euro de ativos líquidos cotizam mais barato que o seu concorrente. Esta relação ajuda-te a discriminar entre opções, desde que não ignores outros fatores simultaneamente.

O valor de mercado: a tua referência operacional diária

O preço que vês no ecrã é o resultado de cruzar ordens de compra com ordens de venda. Este valor de mercado é o que realmente pagas ou recebes. Com ele estabelecerás os teus objetivos de ganho (take-profit), definirás níveis de paragem e ativarás ordens limitadas em momentos de correção. É a tua principal ferramenta de execução.

Cálculo e fontes de dados

As fontes determinarão o teu resultado, e cada método requer informação distinta.

Valor nominal: capital social dividido por ações

A fórmula é direta: tomas o capital social da empresa e divides pelo número total de ações emitidas.

Exemplo: BUBETA S.A. tem um capital social de 6.500.000 € com 500.000 ações emitidas.
Valor Nominal = 6.500.000 € ÷ 500.000 = 13 € por ação

Valor contabilístico: património líquido entre número de títulos

Subtraem-se os passivos aos ativos e divide-se o resultado pelo número de ações em circulação.

Exemplo: MOYOTO S.A. possui ativos de 7.500.000 €, passivos de 2.410.000 € e 580.000 ações.
Valor Contabilístico = (7.500.000 € - 2.410.000 €) ÷ 580.000 = 8,775 € por ação

O valor de mercado: capitalização bolsista entre ações

Divide-se a capitalização total da empresa pelas ações em circulação.

Exemplo: OCSOB S.A. tem uma capitalização de 6.940 milhões de euros e 3.020.000 ações.
Valor de Mercado = 6.940.000.000 € ÷ 3.020.000 = 2.298 € por ação

O que te revelam: interpretação de cada valor

O valor nominal como ponto de referência histórico

Indica o preço inicial de emissão da ação. Em renda fixa tem relevância constante (sabes que recuperarás esse montante ao vencimento), mas em ações sem vencimento definido perde utilidade rapidamente após a saída à bolsa. A sua função principal é servir como ponto de comparação histórica.

O valor contabilístico: a saúde real do balanço

Mostra-te quanto vale a empresa segundo os seus livros contabilísticos. Permite detectar empresas subvalorizadas versus sobrevalorizadas, especialmente em setores tradicionais. No entanto, este método gera ineficiências importantes ao valorizar tecnológicas e small caps, onde os ativos intangíveis são dominantes. Além disso, a contabilidade criativa pode distorcer este indicador.

O valor de mercado: a realidade do agora

Enquanto o valor contabilístico diz “o que deveria ser”, o preço de mercado diz “o que é”. Desconta todas as variáveis intrínsecas e extrínsecas do momento. Não te dirá se esse preço é caro ou barato; para isso precisas de indicadores como o PER, o P/VC ou análise fundamental complementar.

Horários de negociação por zona

O valor de mercado varia consoante o momento de operação. Os principais mercados têm estes horários (hora espanhola):

  • Espanha e Europa: 09:00 a 17:30
  • EUA: 15:30 a 22:00
  • Japão: 02:00 a 08:00
  • China: 03:30 a 09:30

Fora destes horários só podes deixar ordens pré-estabelecidas que serão executadas se o mercado as tocar.

Exemplo prático: META PLATFORMS fecha a 113,02 $ e esperas uma queda maior amanhã. Estabeleces uma ordem de compra limitada a 109 $. Se na sessão seguinte o preço rebotar em vez de cair, a tua ordem nunca será executada porque o preço nunca atingiu o teu limite.

Limitações reais de cada método

Valor nominal: obsoleto em renda variável

O seu horizonte interpretativo é extremamente breve. Quase não aporta valor para operação de trading convencional. Só mantém relevância em contextos muito específicos de instrumentos complexos.

Valor contabilístico: ineficiente com ativos intangíveis

Penaliza empresas pequenas e tecnológicas onde o valor real reside em patentes, marca ou dados (ativos intangíveis não refletidos adequadamente em livros). Além disso, a criatividade contabilística pode gerar distorções, embora não seja habitual. O rácio P/VC por si só nunca deve ser a única métrica de decisão.

Valor de mercado: prisioneiro da indeterminação

O mercado desconta e sobredimensiona fatores externos constantemente. Mudanças em política monetária, factos relevantes setoriais, expectativas económicas nacionais, ou euforia irracional em determinados segmentos podem descolar o preço completamente da realidade operacional da empresa. Isto gera volatilidade que frequentemente não reflete mudanças na saúde empresarial.

Tabela comparativa rápida

Aspecto Valor Nominal Valor Contabilístico Valor de Mercado
Origem de dados Capital social ÷ ações (Ativos - Passivos) ÷ ações Capitalização bolsista ÷ ações
O que indica Preço inicial de emissão Património líquido por ação Preço real de transação
Principal utilidade Referência histórica Detectar sobre/infravaloração Ponto de execução operacional
Maior fraqueza Percurso muito limitado na bolsa Ineficaz com intangíveis, contabilidade criativa Influenciado por fatores sem relação com a empresa

Conclusão: o contexto é tudo

Os três métodos são ferramentas complementares, não excludentes. Um analista competente não se prende rigidamente a um único rácio. O valor nominal serve como referência histórica. O valor contabilístico identifica oportunidades em segmentos de valor. O valor de mercado executa as tuas decisões operacionais.

A chave é interpretar cada indicador consoante o contexto: setor, dimensão da empresa, maturidade do negócio e horizonte temporal do teu investimento. Sem esta compreensão integrada, nenhum rácio individual te protegerá de erros de avaliação. Por isso, antes de abrir posições, dedica tempo a entender não só os números, mas o que realmente contam.

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