Museu de Nanjing sob investigação por escândalo de gestão de relíquias: a famosa pintura 《江南春》 saiu do museu para um leilão, revelando fissuras no sistema e uma crise de confiança pública

Uma pintura da dinastia Ming originalmente pertencente ao acervo público, que passou do depósito do museu para o mercado de leilões, revelou inesperadamente as vulnerabilidades institucionais e a crise de confiança acumuladas ao longo de anos no sistema cultural e museológico da China. A controvérsia no Museu de Nanjing não é apenas um caso de desaparecimento de uma peça de arte, mas uma coletiva interrogação sobre transparência, poder e responsabilidade pública.
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Índice do artigo

  • Do mercado de leilões ao depósito: uma reversão no fluxo de bens culturais
  • Escalada das acusações: problemas institucionais vêm à tona
  • A dúvida do “fechamento coletivo”: efeitos de transbordamento da crise de confiança
  • Reflexões institucionais: a dor de transitar do período planificado para a governança moderna
  • Lições tecnológicas: a blockchain pode se tornar uma infraestrutura de confiança?
  • Conclusão

Recentemente, uma grande controvérsia na gestão de bens culturais no Museu de Nanjing (abreviado como Nanbo) evoluiu rapidamente de um caso de desaparecimento de um antigo livro e pintura para uma questão pública que abala toda a confiança no sistema cultural e museológico do país. O núcleo do incidente não se limita à pintura “Primavera no Sul do Rio Yangtze” de Qu Ying, da dinastia Ming, mas aponta para problemas estruturais profundos relacionados à transparência institucional, supervisão do poder e confiança pública.

Do mercado de leilões ao depósito: uma reversão no fluxo de bens culturais

A crise começou em maio de 2025. Uma pintura de Qu Ying, rotulada como “Coleção Antiga Xuzhai”, apareceu na prévia de um grande leilão em Pequim, com valor estimado de até 88 milhões de yuans. A obra fazia parte de 137 itens (conjuntos) de livros e pinturas antigos doados sem custo pelo descendente do famoso colecionador Pang Laichen em 1959 ao Nanbo.

A bisneta do doador, Pang Shuling, ao descobrir, imediatamente denunciou às autoridades competentes, levando à suspensão emergencial do leilão. Posteriormente, sob mediação judicial, Pang Shuling entrou no depósito do museu em junho para verificação, confirmando que, entre as obras, cinco itens, incluindo “Primavera no Sul do Rio Yangtze”, estavam desaparecidos.

O Nanbo respondeu que as obras em questão haviam sido avaliadas por especialistas na década de 1960 como “falsificações” e, na década de 1990, foram “destinadas a redistribuição e transferência” de acordo com as normas de gestão de coleções de museus da época. A pintura “Primavera no Sul do Rio Yangtze” foi vendida em 2001 por 6.800 yuans, com a nota de venda indicando “reprodução de Qu Ying de paisagem”.

Porém, os descendentes de Pang negaram veementemente a existência de falsificações entre as doações e questionaram a legalidade e a procedimento do museu na gestão dessas obras, alegando que nunca foram informados formalmente ou por contrato durante o processo de disposição, o que configura uma grave irregularidade.

Escalada das acusações: problemas institucionais vêm à tona

Em dezembro, o caso voltou a ganhar destaque. Um ex-funcionário aposentado do Nanbo denunciou formalmente, acusando o ex-diretor do museu de envolvimento em uma grande operação de descarte irregular de “bens culturais transferidos do Palácio Imperial para o sul”, alegando que obras falsificadas foram vendidas a preços baixos, envolvendo uma escala muito maior do que um único caso.

Em 23 de dezembro, a Administração Nacional de Museus e Relíquias Culturais da China e o governo de Jiangsu anunciaram a formação de equipes de investigação especiais, prometendo uma apuração completa sobre autenticidade, procedimentos de disposição e possíveis casos de corrupção, divulgando os resultados à sociedade. Até o momento, a investigação ainda está em andamento.

A dúvida do “fechamento coletivo”: efeitos de transbordamento da crise de confiança

Outro efeito notável do incidente no Nanbo foi a instabilidade na confiança pública nas instituições culturais. No final de dezembro de 2025, cerca de 30 museus na China continental anunciaram fechamento temporário ou suspensão parcial de exposições, incluindo o Museu de Sanxingdui em Chengdu, a Galeria de Pinturas e Caligrafia do Museu de Xangai, e algumas áreas do Museu de História de Shaanxi.

Nas redes sociais, muitos usuários associaram esses fechamentos ao incidente do Nanbo, especulando sobre uma possível inspeção nacional de bens culturais ou “autoavaliação e fechamento”. No entanto, de acordo com os comunicados oficiais, a maioria dos fechamentos se deve a melhorias de instalações, atualizações de exposições, medidas de proteção preventiva ou manutenção do local, como o Museu de Sanxingdui, que fechou desde 5 de dezembro até abril de 2027 para uma grande reforma de aprimoramento; a galeria de pinturas do Museu de Xangai também passou por atualizações de exibição.

Especialistas apontam que não há evidências de que esses fechamentos tenham sido diretamente provocados pelo incidente do Nanbo, mas a coincidência temporal já é suficiente para refletir a inquietação social em relação ao sistema cultural e museológico.

Reflexões institucionais: a dor de transitar do período planificado para a governança moderna

Em suma, o incidente no Nanbo revelou múltiplos problemas estruturais.

Primeiro, o poder de disposição de bens culturais doados está excessivamente concentrado. No sistema atual, os museus têm ampla autonomia para decidir sobre a disposição de doações consideradas “não adequadas para entrada no acervo”, sem uma obrigação legal de notificar formalmente os doadores, o que pode levar à ruptura nos registros de circulação e facilitar operações pouco transparentes.

Segundo, a avaliação de obras culturais depende fortemente do julgamento subjetivo de especialistas, limitada pelos avanços tecnológicos e acadêmicos da época, o que apresenta riscos de “reversão de autenticidade” ao longo do tempo. Uma obra considerada falsificação e vendida por preço baixo pode, anos depois, aparecer no mercado por valores astronômicos, levantando suspeitas de auto-roubo.

Terceiro, há insuficiência na fiscalização interna e no equilíbrio de poderes. A denúncia de um ex-funcionário aposentado evidencia a fragilidade dos mecanismos de supervisão interna do sistema cultural, sendo difícil restabelecer a confiança social apenas com autoinquéritos posteriores.

Um impacto mais profundo é a perda de confiança na doação pública. As doações voluntárias eram uma força importante para promover a ideia de que “as relíquias culturais pertencem ao público”; se o sistema for pouco transparente, isso desestimula a entrada de coleções privadas no setor público.

Lições tecnológicas: a blockchain pode se tornar uma infraestrutura de confiança?

Sob a perspectiva de inovação tecnológica, o incidente no Nanbo também oferece uma reflexão adicional. A blockchain e as criptomoedas, com seu espírito de descentralização, imutabilidade, rastreabilidade transparente e contratos inteligentes, podem fornecer soluções técnicas fora do sistema para a gestão de bens culturais no futuro.

Através de registros imutáveis na cadeia, é possível estabelecer um sistema de rastreamento completo do fluxo de doações, entrada, avaliação, redistribuição e disposição, evitando que informações críticas fiquem restritas a arquivos internos. NFTs podem gerar certificados digitais únicos para cada obra, registrando de forma completa os resultados de avaliação, contexto histórico e mudanças de responsabilidade, de modo que, mesmo que o objeto físico seja descartado por políticas ou avaliações, sua origem digital permaneça rastreável (provenance).

Mais além, por meio de contratos inteligentes com participação de múltiplas partes, é possível criar um consenso entre doadores, especialistas e órgãos reguladores, ao invés de decisões unilaterais de uma única entidade, reduzindo assim o risco de concentração de poder.

Internacionalmente, museus como o British Museum já experimentam projetos de NFTs para revitalizar ativos culturais e proteger direitos digitais. Esses exemplos demonstram que a tecnologia, por si só, não é uma cura milagrosa, mas pode ser uma ferramenta importante para promover a transparência institucional.

Conclusão

A controvérsia no Museu de Nanjing é, essencialmente, um teste de confiança pública. Ela nos lembra que o valor do patrimônio cultural não reside apenas na antiguidade ou no preço de mercado, mas na confiabilidade do sistema que o sustenta. Ao transitar do período planificado para a governança moderna, preencher as lacunas institucionais e incorporar mecanismos de transparência talvez seja a chave para evitar que uma nova “Primavera no Sul do Rio Yangtze” desapareça novamente.

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